terça-feira, 28 de julho de 2009

Crónica "Avenida da Liberdade": Portugal Parado

Portugal já vive em campanha eleitoral, para as autarquias e para o parlamento, e a polícia judiciária fez buscas às casas de dois antigos ministros do cavaquismo, suspeitos no caso BPN. O desemprego continua a subir em flecha, as falências sucedem-se a um ritmo alucinante e os últimos indicadores do Banco de Portugal apontam para um agravamento da situação económica.

Tudo isto aparece nos noticiários, mas escapa ao debate político eleitoral. Sobretudo, os lideres dos dois maiores partidos preferem tratar a crise com alguma superficialidade, em vez de a discutirem a fundo. Lateralmente, vão-se discutindo nomes para as listas de candidatos, como se a diferença fosse grande, entre aqueles que estão em jogo.

Manuela Ferreira Leite pediu às federações distritais do PSD que enviassem à direcção nacional as listas de candidatos, com os nomes dispostos alfabeticamente. Depois, o ordenamento em lista seria decidido em Lisboa. A Federação do Porto foi a primeira a reagir e chamou a si valorização dos candidatos. A Federação de Vila Real também discutiu o assunto. Aquela estrutura escolheu, para cabeça de lista, o nome de Pedro Passos Coelho, natural da cidade e ex-candidato à presidência do partido. Mas a actuação de Passos Coelho durante a campanha para as europeias suscita dúvidas à direcção nacional e à própria Ferreira Leite, a tal ponto, que há quem defenda a sua exclusão das listas de candidatos. Em Vila Real, contrapõe-se que ele é a figura certa, para o partido obter um bom resultado, naquele círculo.

No PS, as questões são outras. Manuel Alegre insiste em não se candidatar, contrariamente aos desejos de José Sócrates que via nisso uma forma de mobilizar a ala esquerda do partido, descontente com os seus quatro anos e meio de governação. Para piorar, Alegre prometeu dar um sinal de apoio ao PS, mas não parece muito interessado em fazer campanha eleitoral, como lhe tem sido pedido. E aqui há uma explicação de peso. Alegre será, com alta probabilidade, candidato presidencial em 2011 e está-se a resguardar para essa altura, evitando associar o seu nome, mesmo que distantemente, a uma eventual derrota socialista, nas legislativas.

Com este problema para resolver, Sócrates criou outro, ao proibir as duplas candidaturas, às autarquias e à Assembleia da República. Foi acusado de alterar as regras a meio do jogo, tanto mais que, nas recentes europeias, permitiu que Elisa Ferreira e Ana Gomes fossem candidatas ao Parlamento de Estrasburgo, quando já estavam anunciadas as suas candidaturas às câmaras do Porto e Sintra, respectivamente. O que é que mudou, entretanto? A derrota do PS nas europeias e os péssimos resultados que as sondagens antevêem, em Sintra e no Porto. Logo, foi uma má opção que Sócrates agora corrige, embora muito em cima dos acontecimentos.

Fora disto, tudo são águas mornas. Depois de adiar decisões sobre o TGV e o novo aeroporto internacional de Lisboa, o Governo está a remeter, para a próxima legislatura, variadíssimos diplomas. A explicação é simples: já não tem força política e pretende também evitar polémicas, em plena campanha.

Dois antigos ministros de Cavaco Silva viram as suas residências revistadas, pela polícia judiciária, que procura elementos de prova, para o caso BPN. Os visados foram o inevitável Dias Loureiro e Arlindo de Carvalho que foi ministro da Saúde. É um caso que vai animar a campanha eleitoral, a que se deve juntar o caso Freeport. Ou então, e isso não será bom, haverá um pacto de silêncio, entre os dois maiores partidos.

Na área internacional, há que destacar o "pedido" de Obama, ao Governo de Israel, para que trave o projecto de construções em Jerusalém oriental, contestado pelos palestinianos. Benjamim Natahnyau rejeitou. O que tem grande significado é que, pela primeira vez, em muitos anos, a administração norte-americana afronta Israel. Será que as coisas estão a mudar?

Sérgio Ferreira Borge,
analista político

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