terça-feira, 29 de setembro de 2009

ÚLTIMA HORA Portugal/Caso das escutas: Cavaco Silva vai quebrar o silêncio, esta terça-feira


(notícia actualizada)

O Presidente da República (PR), Aníbal Cavaco Silva, faz hoje, terça-feira, às 20h, uma “declaração à comunicação social”.

“O Presidente da República fará amanhã [terça-feira], dia 29 de Setembro, às 20h, uma declaração à comunicação social”, refere uma nota divulgada no sítio da Presidência da República.

Lacónica, a nota não adianta mais pormenores sobre o conteúdo da comunicação, mas Cavaco deverá finalmente romper o silêncio sobre o "caso das alegadas escutas em Belém".

No domingo, quando confrontado pelos jornalistas sobre quando falaria sobre o caso, que levou ao afastamento do seu assessor Fernando Lima, o Presidente da República limitou-se a dizer que manteria “silêncio total” até ao dia das eleições.

“Eu disse que manteria um silêncio total até ao dia das eleições”, sublinhou, à saída da escola em Lisboa, onde votou para as eleições legislativas de domingo.

"Caso das alegadas escutas" remonta a Agosto


Já durante o período oficial da campanha para as legislativas, o Chefe de Estado afastou Fernando Lima, que trabalhava consigo há mais de 20 anos, do cargo de responsável pela assessoria para a Comunicação social da Presidência da República.

Esta demissão aconteceu dias depois do Diário de Noticias (DN) ter noticiado em 18 de Setembro que Fernando Lima teria sido a fonte do diário Público para a sua manchete de 18 de Agosto, já em pré-campanha eleitoral, segundo a qual Cavaco Silva suspeitava estar a ser espiado pelo Governo liderado por José Sócrates.

Essa suspeita foi formulada a propósito de críticas do PS à alegada participação de assessores de Cavaco Silva na elaboração do programa eleitoral do PSD.

Na notícia do Público, uma fonte de Belém questionava a forma como os socialistas poderiam saber dessa participação: “Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem, os assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? Estamos sob escuta, ou há alguém na Presidência a passar informações? Será que Belém está sob vigilância?”

Antes da notícia do DN, o líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, já tinha adiantado o nome de Fernando Lima como a fonte da notícia do Público, em entrevista à SIC.

Foi na sequência desta manchete que o Público noticiou que as alegadas suspeitas de Cavaco Silva quanto a uma vigilância do Governo remontavam à visita do Presidente à Madeira em 2008, na qual teria sido observado um comportamento suspeito por parte de um assessor de Sócrates, Rui Paulo Figueiredo.

O DN publicou uma alegada mensagem de correio electrónico entre o editor de política do Público, Luciano Alvarez, e o correspondente do jornal na Madeira, Tolentino de Nóbrega, com instruções para seguir pistas fornecidas por Fernando Lima quanto a essa suspeita, supostamente por ordem directa de Cavaco Silva.

O director do Público, José Manuel Fernandes, depois de, numa primeira reacção, ter envolvido os serviços secretos portugueses numa alegada violação da correspondência entre os dois jornalistas, revelou na SIC Notícias não haver “nenhum indício que tenha havido violação externa” das mensagens electrónicas.

Também os Serviços de Informações de Segurança (SIS) negaram, em comunicado, "categoricamente o envolvimento" em eventuais escutas feitas à Presidência da República ou a "intercepção de comunicações" internas do jornal Público.

No dia em que o DN noticiou que Fernando Lima teria sido a fonte do diário Público, Cavaco Silva recusou comentar a notícia mas disse que, depois das eleições, iria tentar "obter mais informações sobre questões de segurança".

"Depois das eleições, não deixarei de tentar obter mais informações sobre questões de segurança. O Presidente da República deve preocupar-se com questões de segurança", afirmou Cavaco Silva.

Insustentável silêncio

O "caso das escutas" e o insustentável silêncio do Presidente da República foram temas amplamente explorados pelos partidos durante a campanha eleitoral. Enquanto as hostes de certos partidos, como Pacheco Pereira (do PSD) consideravam que Cavaco deveria esclarecer a opinião pública sobre o caso, outros havia, como Sócrates, que respeitavam a decisão do PR de não querer vir, com este caso, perturbar ainda mais a campanha eleitoral, que já se havia afastado, segundo este, "da agenda da campanha e das questões que verdadeiramente interessam aos portugueses".

Segundo muitos analistas políticos, o facto de o caso das escutas ter vindo à baila durante a campanha eleitoral para as legislativas terá prejudicado mais o PSD do que propriamente o PS, no que consideram ter sido um dos muitos erros dos sociais-democratas nesta campanha.

A intervenção de Cavaco Silva é assim muito esperada tanto pelos quadrantes políticos da esquerda como da direita portuguesas.

Texto: JLC/com agências ; Foto: Manuel Dias

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