domingo, 31 de janeiro de 2010

Crónica: Eugène Ruppert, um luxemburguês na China

Nasceu (ass gebuer) em 1864 no bairro do Grund, na capital, e era (a wor) filho de um mestre ferreiro. O "condão" do ferro (Eisen) irá marcar o destino do jovem (jonken) Eugène Ruppert que se tornará célebre além-fronteiras e muito especialmente (a besonnesch) a milhares de quilómetros do Grão-Ducado, num país (an engem Land) , centenas de vezes maior (méi grouss) do que aquele que o viu nascer.

Eugène fez os seus estudos secundários no Ateneu [liceu então situado na rue Notre-Dame (Ënneschtgaass) (*), onde hoje (wou haut) se encontra a Biblioteca Nacional] continuando a sua formação na Escola Industrial e Comercial que havia sido recentemente criada. É já (‘t as schonn) com 22 anos (mat zweeanzwanzeg Joer) de idade que integra a Escola Politécnica alemã de Aix-la-Chapelle (Oochen) para prosseguir uma formação de engenheiro metalurgista, continuando a trabalhar como mineiro (Biergaarbechter) numa mina de carvão (Kuel) próxima daquela cidade (vun däer Stad) . As suas capacidades e os seus conhecimentos permitem-lhe, muito rapidamente (ganz schnell) , aceder a um lugar de engenheiro químico numa empresa alemã de altos fornos e a ser promovido a director adjunto da mesma firma. O seu país natal (Heemechtland) parecia-lhe ser demasiado (zevill) pequeno (kleng) para dar corpo a todos os seus sonhos (all seng Dreem) e, mesmo (an esouguer) a Alemanha (Däitschland) , onde (wou) estudava, não correspondia aos seus projectos nem às suas ambições profissionais. É que, para além da paixão pelo ferro, Eugène possuía um espírito aventureiro. Por volta dos anos (ëm d’Joer) de 1890 o rei (de Kinnek) Leopoldo II da Bélgica tentou (huet probéiert) , sem êxito (ouni Erfolleg) , uma colonização da China e (an) , perante tal insucesso, os industriais belgas vão, por outras vias, tentar consolidar o poder do reino belga no império chinês. Foi deste modo (et wor esou) que as fábricas belgas Cockerill lançaram um apelo aos engenheiros belgas e luxemburgueses para integrarem a fábrica de ferro da região chinesa de Han Yang e que Eugène foi convidado para desempenhar o cargo de director técnico da dita fábrica. Em 1894, este engenheiro luxemburguês, que ficará conhecido com a alcunha de "o Chinês", embarca na gare do Luxemburgo acompanhado de outros três especialistas, iniciando uma viagem (eng Rees) que durará cinco semanas (fënnef Wochen) . A primeira etapa é Paris (Paräis) , de onde partem para Marselha, a caminho de Roma, passando por Nice, Génova e Pisa. O barco (de Schëff) que os leva até (bis) Hong Kong parte de Nápoles, fazendo escalas, em Port Saïd, no Egipto, em Aden, no Iémen, em Colombo, no ex-Ceilão e em Singapura. O choque cultural em terras chinesas foi terrível (fuerchtbar) para (fir) aquele grupo de homens (vu Männer) que diziam só (nëmmen) ter encontrado (fonnt) lá (do) operários preguiçosos (liddereg) e corrompidos pelo comércio e pelo consumo do ópio. Mas, para além do problema do ópio, também (och) existiam outros problemas de origem social ligados à "crueldade" das tradições culturais, à insalubridade ambiente, ao analfabetismo e à superstição. Nesses tempos, as condições de vida naquela região (Géigend) eram tais, que os missionários europeus dificilmente atingiam os 40 anos de idade. Eugène começa por analisar a topografia e a geologia local, o clima, os vários clãs da população, as línguas (d’Sproochen) que ali se falam e as intrigas que se tecem na área complexa dos negócios com os chineses. Foi assim que, para evitar (verhënneren) as traduções (Iwwersetzungen) tendenciosas, se concentra na aprendizagem de uma língua chinesa, o mandarim. Em 1895 instala o primeiro (den éischten) alto-forno (Héichuewen) , conjuntamente com uma unidade de laminagem do ferro e, 10 anos depois (zeng Joer duerno) , em 1905, constrói uma outra (eng aner) fábrica na mesma região (Géigend) de Han Yang. Passados 15 anos, em 1910, a produção de ferro das duas (zwou) fábricas atinge 127 mil toneladas, o que equivale à totalidade da produção chinesa da altura. As fábricas englobam quatro (véier) altos-fornos, sete (siwen) fornos simples, uma (eng) fábrica de aço, seis (sechs) unidades de laminagem e uma central eléctrica, e contam com 20 mil operários – entre os quais, 24 luxemburgueses (véieranzwanzeg Lëtzebuerger) . Mas, é logo em 1898 que, devido a problemas de saúde, Eugène se vê obrigado (gezwongen) a voltar (zréckkommen) ao Grão-Ducado e a cá ficar durante (während) algum tempo. Este curto (kuerz) interregno na sua actividade industrial tornar-se-à, de certo modo (am Fong geholl) , benéfico para a sua vida pessoal pois que, para além de um tratamento e de uma convalescência adequados, lhe permite conhecer Suzanne Carry, a jovem e rica burguesa com quem virá a casar (sech bestueden) . Esta família Carry era proprietária do palacete "Raville" (conhecido por Maison Raville) e situado na rue de la Reine, em frente ao palácio. Após esta estadia forçada no Luxemburgo, parte para o Japão (Japan) como especialista em geologia e redige um estudo que visa a implantação de novas unidades siderúrgicas. Em 1905, Eugène regressa à China e ocupa o posto de director geral técnico das fábricas de Hang Yang. Em 1912, altura em que as instalações que havia criado e chefiado passarão sob a inteira tutela das autoridades chinesas, "o Chinês" regressa definitivamente (fir ëmmer) ao Luxemburgo onde virá a falecer em 1950 após ter continuado a desempenhar várias funções de responsabilidade.

A Exposição Universal de Xangai de 2010 apresenta uma retrospectiva em memória deste grande luxemburguês que marcou o início (den Ufank) da era industrial chinesa, e cuja alcunha denota bem a paixão daquele filho de um simples mestre de forja do Grund. Hoje, a cidade de Han Yang, geminada com as cidades de Hankow e Wuchan conta com uma população de 4 milhões de habitantes (Awunner) e possui a maior unidade siderúrgica da China.

Maria Januário (rubrica de civilização, cultura e língua luxemburguesas, publicada na segunda e na quarta semana de cada mês; Próxima publicação: a 10 de Fevereiro)

(*) em luxemburguês, a rue Notre-Dame é chamada "a rua de baixo" (Ënneschtgaass), devido à antiga configuração da cidade e à fortificação que a rodeava

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