sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Luxemburgo: Comerciantes portugueses lutam para se manterem à tona de água

O mercado mudou: compram os produtos mais caros aos fornecedores e, para se manterem competitivos, baixaram as margens de lucro para não afugentarem os clientes. O CONTACTO foi conversar com portugueses que são donos de comércios no Luxemburgo para tentar saber se a crise, tão temida em 2008, teve reflexos nos seus negócios.

Uma das casas portuguesas de revenda e de distribuição alimentar mais antigas no Luxemburgo é a Boissons Raposeiro, em Merl, na capital. É lá que encontramos a família Raposeiro: Dulce e José e os filhos, Jorge e Marina. Anunciada em 2008, lá a crise deu o ar da sua graça em 2010. Segundo Jorge Raposeiro, as encomendas mantêm-se, "os prazos de pagamento é que se alongaram muito." Quando antes os clientes pagavam a factura em um ou dois meses, agora "chega a haver facturas pendentes durante meio ano. A maioria paga, mas com dificuldade."
Marina Raposeiro concorda com o irmão e, para ilustrar o aumento das facturas pendentes, aponta para uma série de dossiers que tem junto à secretária: "Antes tinha um dossier em que arquivava as facturas por pagar. Hoje em dia tenho dois."


"O preço dos produtos aumentou e os clientes não gostam de pagar mais pelo produto. Para fazer frente à concorrência, temos baixado as margens [de lucro, n.d.R.]. Dá para as despesas mas já não dá para ganhar dinheiro como dantes", conclui Jorge Raposeiro.

No centro de Bertrange, entre a igreja
e o posto dos correios, há um restaurante de portugueses, o Am Bureck, gerido há cinco anos por dois sócios, Domingos Soares e Artur Gomes. Diz o segundo que "a crise começou a notar-se no ano passado, as pessoas têm pouco dinheiro para gastar." E os clientes são cada vez menos. "Poucas vezes se consegue encher a sala do restaurante, que tem capacidade para 60 pessoas". Artur Gomes acrescenta que "as pessoas agora, em vez de irem ao restaurante, vão ao café comer uma sandes. E à noite comem em casa!".


Margens de lucro mais curtas

A opinião é unânime: para fazer frente ao aumento das despesas há que flexibilizar os preços para continuar a atrair os clientes. Todos os comerciantes com quem o CONTACTO conversou dizem que é a única forma de se manterem à tona. Para os Talhos Ferreira, 2010 foi um ano muito difícil. Pedro Ferreira, sócio-gerente da empresa, diz que "as pessoas compram a mesma quantidade, dispendem é menos dinheiro porque compram produtos mais baratos." Nesse mesmo ano, a carne foi comprada "mais cara" aos fornecedores e venderam-na "ao mesmo preço, logo as margens de lucro desceram. Esse foi o grande problema em 2010: vimos que as pessoas não compravam. Se fôssemos aumentar os preços espantávamos as pessoas", diz.
Depois de um milhão e meio de euros investidos na fábrica Sud Viandes, em Janeiro de 2010, que foi criada para tratar as carnes compradas aos fornecedores, Pedro Ferreira acrescenta que os investimentos "estão afectados pela quebra nas vendas em 2010". "Estávamos à espera que as vendas acompanhassem o investimento, mas não é o caso."

Em Hollerich, Joel e Lurdes Rocha têm o café Two Faces aberto há seis anos. Os primeiros seis meses de 2009 foram terríveis para o negócio. "Foi uma altura em que conseguíamos pagar aos fornecedores mas não tínhamos salário para nós. Durante os primeiros seis meses de 2009 pensámos mesmo em fechar." Dizem que hoje em dia têm menos lucro do que quando abriram o café. A estratégia é simples e Lurdes explica-a com bastante pragmatismo: "Prefiro ganhar menos e ter os meus clientes. Gasto mais dinheiro para produzir o mesmo. Tenho de pensar que estamos aqui os dois e que não temos um salário fixo, vivemos do que entra."

Nos Talhos Brill, o lema do negócio é "Qualidade ao melhor preço". Mesmo que signifique ganhar menos. O importante é manter os clientes. José Pinto, director-comercial, afirma que praticam "preços um pouco mais baixos" do que as grandes superfícies. "E com os preços mais baixos as margens de lucro estão mais curtas."

Natal não foi a época mais feliz do ano

Para a grande maioria dos comerciantes, o Natal de 2010 não foi uma época nada feliz em termos de vendas e de afluência de clientes. O nevão que caiu no dia 24 de Dezembro obrigou as pessoas a ficar em casa e os lucros esperados para aquela época do ano foram perdidos.
Pedro Ferreira, dos Talhos Ferreira, não hesita em afirmar que o Natal de 2010 foi negro. "O Natal de 2010 foi uma desgraça por causa da neve. Tivemos muito prejuízo devido à neve porque os clientes não podiam sair de casa e nós tínhamos mercadoria encomendada."


A mesma opinião tem Marina Raposeiro, das Boissons Raposeiro. "Notei uma grande diferença no Natal do ano passado em relação a 2009. Tivemos menos clientes e foi tudo muito calmo. Tudo por causa da neve."

Texto e fotos: Irina Ferreira

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