sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Luxemburgo: Wiltz retoma a normalidade depois dos actos de vandalismo contra o santuário

Wiltz acordou assustada com as notícias: o santuário de Nossa Senhora de Fátima, na colina "op Baessent", tinha sido profanado durante a noite. Sob a imagem de Nossa Senhora estava pintada a cruz suástica do regime nazi, e inscritas as palavras "Satan" e "Tod" (morte, em alemão).

Tudo elementos que fazem recordar a ocupação nazi durante a Segunda Guerra Mundial, motivo pelo qual foi mandado erigir o Santuário.

Os paroquianos não queriam acreditar no que o padre Molitor anunciava na missa de sábado, 12 de Fevereiro. Depois de ter sido informado pela polícia local, o pároco da cidade cumpriu o "triste" dever de informar os fiéis que o Santuário de Nossa Senhora de Fátima tinha sido vandalizado durante a noite. Actos de vandalismo que em nada se assemelhavam aos anteriores – caixa das esmolas roubada, lixo acumulado, etc. Não. Desta vez as marcas deixavam antever uma ligação à ideologia nazi e um carácter claramente xenófobo.

Um pouco por todo lado foram desenhadas cruzes suásticas e inscritas as palavras "Satan" e "Tod" (morte, em alemão). A imagem da virgem não foi poupada, o altar também não, tal como as placas com os nomes dos soldados luxemburgueses que tombaram debaixo dos bombardeamentos alemães.

"Foi um choque para a comunidade de Wiltz", conta o padre Molitor ao CONTACTO. "Havia pessoas que começaram a chorar, portugueses e luxemburgueses", acrescenta o pároco da cidade. E continua: "É que, se por um lado, os portugueses são muito devotos de Nossa Senhora de Fátima, por outro, aquele lugar tem um significado muito especial para os luxemburgueses. Foi erigido depois de termos feito uma promessa a Nossa Senhora por causa da ocupação nazi".

"Eu estava na missa e fiquei toda arrepiada quando ouvi o padre a contar o que tinha acontecido", conta Isabel Schweig-Matos, do coro da Igreja.

"Eu só fui ao santuário no domingo e fiquei horrorizada. Deu-me a impressão que celebraram ali uma missa negra. É que até a cruz – feita com os restos das bombas alemãs - foi destruída. Estava dobrada e a imagem completamente virada do avesso. Estava também inscrito o número 666, a besta do Apocalipse. Já viu? Isto é tão ofensivo para os portugueses como para os luxemburgueses".

Wiltz: O santuário Mariano



Lugar de oração e veneração a Nossa Senhora de Fátima no Grão-Ducado, a cidade de Wiltz tornou-se numa fonte espiritual para luxemburgueses e, sobretudo, para as comunidades lusófonas, com particular destaque para a portuguesa, não só no Luxemburgo, como nas regiões limítrofes, atraindo anualmente cerca de 20 mil pessoas a esta significativa manifestação de fé.

O bispo do Luxemburgo é o primeiro a reconhecê-lo. Na habitual mensagem dirigida aos fiéis por ocasião da peregrinação a Wiltz, Fernand Franck escrevia, no ano passado, que "o Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Wiltz, tornou-se o destino de diversas peregrinações e, a partir de 1969, o lugar da grande peregrinação dos fiéis portugueses, que encontraram trabalho no Luxemburgo e um novo lar". "Milhares de peregrinos põem-se a caminho, fazem uma experiência espiritual profunda e reencontram-se em comunidade cristã quando da procissão e celebração eucarística".

Fernand Franck lembrava ainda que "a peregrinação do Dia da Ascensão é um acontecimento importante de toda a Igreja no Luxemburgo e demonstra quanto ela está enraizada nas diferentes comunidades, pela sua origem e cultura, e ao mesmo tempo unidas por uma mesma veneração da Mãe de Deus".

"Quem fez tal acto de barbaridade? Não sei", garante o padre Molitor, "mas não me parece que isto tenha que ver directamente com os portugueses", afirma o pároco. "A única coisa que esperamos é que a polícia encontre os responsáveis e que sejam obrigados a responder pelos seus actos".

"Não há xenofobia em Wiltz. Somos cerca de cinco mil habitantes e os portugueses representam um quinto da população. Há uma excelente relação entre todas as comunidades presentes na cidade e os portugueses são muito apreciados. Os actos de vandalismo não foram só feitos no santuário, mas também noutras áreas da cidade. Perto da colina há um parque infantil que também foi alvo da mesma 'brincadeira', e o parque não é só frequentado por portugueses", afirma Frank Arndt, burgomestre de Wiltz ao CONTACTO.

As inscrições nazis foram limpas logo na segunda-feira, dia 14 de Fevereiro. A polícia está a investigar o caso, "mas até agora nada", diz o burgomestre. "Eles não têm qualquer pista. Não sabem por onde pegar. Dizem que estão a investigar, mas não vão concluir nada. É muito difícil descobrir alguma coisa".

Domingos Martins
Foto: Marcel Schweig

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