terça-feira, 22 de março de 2011

Análise: BCE quer conter inflação / Crédito mais caro a partir de Abril?

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, admitiu a 3 de Março que é possível que a instituição que lidera venha a aumentar as taxas de juro já em Abril.

A acontecer, é a primeira vez em dois anos que o BCE subirá as taxas de juro com o objectivo de travar a inflação, que está a subir em virtude da escalada dos preços dos alimentos, das matérias-primas e do petróleo.

Apesar do BCE manter inalterada a taxa de juro de referência da Zona Euro em 1 % pelo 22o mês consecutivo, Trichet garantiu que a instituição vai continuar a vigiar as pressões inflacionistas depois de em Fevereiro a inflação da Zona Euro ter aumentado 2,4 % face ao mesmo mês em 2010. Trichet afirmou assim ser possível um aumento das taxas de juro na próxima reunião do Conselho de Governadores, a 7 de Abril.

Estas declarações do presidente do BCE surpreendem os próprios analistas e economistas que aguardavam por um aumento da taxa de referência apenas no segundo semestre do ano.

A verdade é que, quer seja agora ou mais tarde, o aumento dos juros na zona euro terá consequências para bancos, empresas e pessoas. Tal como desejado pelo BCE, um aumento nas taxas de juro pode vir a conter a inflação da procura, ou seja, o aumento dos preços causado pelo excesso de consumo.

A ideia subjacente é restringir o consumo através do encarecimento dos empréstimos. O mecanismo é simples: como a taxa directora do BCE é utilizada como referência na determinação dos juros cobrados pelos bancos aos consumidores e às empresas, o seu aumento causa um aumento nos custos de um crédito. E se o crédito é mais caro, os clientes terão tendência a pedir menos crédito e a consumir menos o que, pelo menos teoricamente, contribui para conter a inflação.

Na prática, um aumento do juro de 0,25 % significa um encarecimento de 2,5 euros por mil euros de crédito contraído. Um crédito hipotecário de 300 mil euros custará assim mais 750 euros por ano.

No entanto, se por um lado o aumento dos juros garante um maior controle da inflação, por outro lado acaba por diminuir o potencial de crescimento da economia e do emprego.

É o lado perverso do sistema, pois com as taxas de juro mais elevadas, as empresas têm de arcar com o custo mais elevado de financiar o crescimento das suas actividades e o aumento de uma produção para a qual temem não encontrar consumidores suficientes.

Claro que os consumidores ou as empresas que optaram por um empréstimo a taxa fixa não sofrerão quaisquer degradações do seu poder de compra, pois o seu juro não é afectado pelas decisões do BCE. Contudo, ao contrário dos países limítrofes, no Luxemburgo existe pouco o costume de contrair empréstimos com taxa fixa.

Mas recorde-se ainda que um aumento da taxa de juro é também um incentivo à poupança, já que os juros das aplicações também aumentam e garantem um rendimento maior aos depósitos efectuados. Também aqui, por regra, os bancos tendem em adaptar os aumentos dos juros nos créditos dos seus clientes e são, no entanto, um pouco mais lentos a nivelar as condições da poupança. A tendência é observar o comportamento da concorrência e proceder aos ajustes depois.

Pedro Castilho, analista financeiro
Foto: Marc Wilwert

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