quinta-feira, 26 de maio de 2011

Portugal: Passos Coelho defende reavaliação da lei do aborto e recebe críticas de toda a esquerda

O aborto foi hoje o tema dominante do quinto dia de campanha eleitoral, com Pedro Passos Coelho a defender a reavaliação da lei e a admitir mesmo um novo referendo, o que lhe valeu um coro de críticas da esquerda.

De manhã, o líder do PSD defendeu, em declarações à Rádio Renascença, que a última lei do aborto aprovada pelo Parlamento pode “ter ido um pouco longe demais” e tem de ser reavaliada, admitindo a possibilidade de realização de um novo referendo, mas apenas após essa avaliação.

À tarde, Pedro Passos Coelho garantiu que não vai propor um novo referendo, mas admitiu que isso possa acontecer por iniciativa de cidadãos, lembrando que a ideia não consta do programa do partido.

E acrescentou: "Não se trata de piscar o olho a ninguém, é uma questão democrática. Se houver cidadãos que queiram suscitar essa questão no Parlamento, para nós essa questão não é uma questão tabu", lembrando que o PSD nunca teve uma posição oficial sobre a matéria.

Na reação, o líder do PS, José Sócrates, manifestou-se “chocado” e acusou Passos Coelho de mudar de opinião segundo os auditórios: “Conheci essa declaração há pouco e devo dizer-vos que estou chocado com isso. O líder do PSD mostrou hoje que afinal de contas adapta as suas convicções às suas conveniências e que muda de opinião segundo os auditórios. [...] então agora é que o doutor Passos Coelho entende dizer ao país que não está de acordo com a lei? Agora é que pretende fazer um recuo naquilo que foi uma expressão genuína da vontade dos portugueses?”.

Mas a ideia de Passos Coelho foi ainda criticada pela ministra da Saúde, pela secretária de Estado da Igualdade, pelo grupo parlamentar dos socialistas e pela juventude do partido.

Ainda à esquerda, o secretário-geral do PCP opôs-se à revisão da lei da interrupção voluntária da gravidez, indicando que o partido nunca apoiará nada que signifique um “retrocesso”.

“A CDU está claramente do lado das mulheres, dessa causa, desse avanço civilizacional, e não acompanhará qualquer medida” que vise um “retrocesso” para a situação de antes do referendo, de “aborto clandestino, aborto penalizado”, afirmou Jerónimo de Sousa.

Já o coordenador do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, avisou Passos Coelho que “pode tirar o cavalinho da chuva” porque a sociedade “não volta atrás”.

À direita, o presidente do CDS-PP, Paulo Portas, considerou que a sugestão de Passos Coelho é “uma evidência que se impõe”, mas frisou que esse processo deve ser feito com “toda a sensibilidade e cuidado".

Na defesa do presidente do partido, o cabeça de lista do PSD/Porto, Aguiar Branco, acusou Sócrates de manipular as palavras de Passos Coelho para “desviar a atenção”, acusação repetida pelo líder da 'jota' social-democrata.

À margem desta polémica, o secretário-geral do PS dedicou grande parte do dia de campanha ao programa Novas Oportunidades, reiterando o seu orgulho na iniciativa, enquanto Paulo Portas voltou ao tema da agricultura e, em São Miguel, manifestou confiança na eleição de um deputado democrata-cristão pelos Açores. Jerónimo de Sousa acusou o Governo de cortar nos benefícios sociais para os estudantes do ensino superior e o coordenador do BE insitiu nas críticas à renegociação das concessões das autoestradas, considerando estes contratos "ilegais".

MLS.

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