quarta-feira, 28 de março de 2012

O sonho começou na Noruega, passou pela Suíça e acabou no Luxemburgo


Fábio e Paulo são dois algarvios de gema. Cresceram e viveram em S. Bartolomeu de Messines, uma vila encastrada na serra de Silves, com pouco mais de oito mil habitantes. O viajante que passa vê oliveiras, alfarrobeiras, figueiras, amendoeiras e vastos pomares. A agricultura é a vida da freguesia.

Fábio trabalhava na Conforama de Albufeira. Paulo era técnico de montagem de cozinhas. Há dois meses, despediram-se, fizeram as malas, deixaram as mulheres e os filhos e partiram à procura do sonho da imigração, numa viagem que os havia de levar à Noruega, à Suíça e por fim ao Luxemburgo.

A ideia dos dois amigos era a mesma de milhares de portugueses que estão a abandonar o país: arranjar trabalho para poderem proporcionar uma vida melhor à família. Primeiro vieram eles, depois virá a família, se tudo correr bem.

Primeira paragem, Oslo. Através da internet, conseguiram arranjar um contacto de uns portugueses que os orientaram na terra dos fiordes. Ficaram alojados numa pousada da juventude num quarto com beliches para oito pessoas, mas a estadia durou apenas um mês. "Apanhámos temperaturas de 26° negativos e foi muito difícil. Vimos rapidamente que ali não nos conseguiríamos adaptar. Encontrámos um português e conhecemos um italiano que também fugiu da crise em Itália", recorda Fábio ao CONTACTO. 

"Tinham-nos dito que na Noruega era fácil arranjar trabalho, uma vez que é um país pouco procurado por portugueses. Mas afinal é muito difícil. Vimos mais de 350 espanhóis a dormir na estação dos comboios que não tinham onde ficar. Em Londres, também há portugueses a dormir na rua, e na Suíça a situação repete-se. Antigamente eram só os portugueses que eram pobres e que imigravam. Agora é a Europa inteira, são como gafanhotos", descreve Paulo ao CONTACTO. "Deixámos currículos à bruta, na Noruega, mas nunca ninguém nos respondeu. Os noruegueses não gostam dos estrangeiros e por isso viemos embora", acrescenta o amigo.

Da Noruega passaram à Suíça. "Chegámos lá e pediram-nos nove euros por uma latinha de salsichas, e desmoralizámos. Há muitos portugueses à procura de emprego na Suíça e o nível de vida lá é muito caro. Para além disso, o processo de legalização é muito difícil, e por isso também viemos embora. Falámos com um amigo que nos apresentou a Maria e viemos para o Luxemburgo". Há mais de um mês que estão no Grão-Ducado. Alugaram um quarto num café explorado por portugueses, em Beggen. Pagam 640 euros por mês com direito a mudas de roupa, almoço e jantar. Queixam-se de tudo na "pensão" dos portugueses. Dizem que o aquecimento não funciona, que a comida é "asquerosa", que a higiene na cozinha "não existe" e que as roupas da cama são deixadas de uns hóspedes para os outros. No rés-do-chão da casa, funciona a cozinha, que "está inundada de cães". "Há 14 pessoas por piso, todos portugueses e todos na mesma condição. Vieram todos à procura de trabalho. Nós comemos lá apenas duas vezes e desistimos. Ver os cães a entrar e a sair da cozinha enquanto se fazem as refeições, é abaixo de cão", dizem os algarvios ao CONTACTO.

O porto de abrigo é a casa da amiga Maria, portuguesa, chegada ao Luxemburgo há cerca de seis anos, e que desde que os dois algarvios chegaram lhes tem servido de cicerone no país.

"Levantamo-nos às oito da manhã, imprimimos entre dez a doze currículos por dia e andamos a distribuir papel por todo o lado. Fui à Conforama aqui do Luxemburgo entregar o meu currículo. Passadas duas semanas telefonei para lá porque estranhava a falta de notícias. Disseram-me que não sabiam do meu currículo", conta Fábio ao CONTACTO. "Também já fui à ADEM e aí é que perdi a vontade de continuar".
Paulo já gastou mais de três mil euros no sonho da imigração

"O senhor que me recebeu disse-me que os 'portugueses só servem para trabalhar nas obras', e para o trabalho na construção civil disse-nos que tinha 'seiscentos trabalhadores' de empresas que tinham falido que 'sabiam falar francês e com experiência no sector', coisa que nós não temos. Foi muito mau", desabafa Fábio.

E continua: "Eles olham para nós e dizem: 'português é para as obras', e não nos dão outra oportunidade. Mas nós estamos dispostos a fazer qualquer coisa. Até hoje só recebi uma resposta de uma empresa de transportes, de resto nada".

"Estamos muito tristes e desanimados. O Luxemburgo não é o paraíso que pintam. Os portugueses quando chegam a Portugal pintam isto de cor-de-rosa e por isso chegámos aqui iludidos. Nós quando saímos de Portugal, sabíamos que não ia ser fácil, mas o senhor da ADEM disse-nos que era praticamente impossível trabalhar no Luxemburgo e isso desanimou-nos muito", diz Paulo.

Como bons algarvios, Fábio e Paulo falam inglês, mas francês, nada. Na Noruega, a língua de Shakespeare deu para desenrascar, mas também não ajudou nada na procura de um trabalho. Os amigos conhecidos através da internet traduziam-lhes os currículos para a língua norueguesa. No Luxemburgo, os dois amigos dizem que "o inglês não serve para nada". "Temos de saber falar, pelo menos francês, já para não referir o alemão e o luxemburguês", diz Fábio.

Desde que saíram de Portugal, Fábio e Paulo já gastaram mais ou menos três mil euros, cada um, em passagens aéreas, no alojamento e na comida. Fábio que saiu de Portugal com a ideia de arranjar dinheiro para acabar as obras que começou na casa, mas agora diz que "o melhor é voltar" e que com o dinheiro gasto na aventura europeia "já tinha terminado as obras em casa". Paulo reconhece que Portugal está "muito mal", que há empresas "a fecharem todos os dias", mas "pelo menos lá em baixo estou na minha casa com a minha família". "No início as nossas mulheres davam-nos força, mas agora já nos começam a dizer para regressar. As saudades são muitas e nós sentimos a falta da família".

Quanto ao que irão fazer em Portugal, os dois amigos não sabem nada. Dizem que não recebem subsídio de desemprego "porque não se despediram para receber subsídios", e por isso não afastam a hipótese de voltar a sonhar com uma vida melhor fora de Portugal. Mas a experiência destes dois meses já serviu para alguma coisa: "À aventura nunca mais, porque isto sai muito caro. Só voltamos a sair de Portugal se tivermos uma proposta concreta de trabalho".

Texto e fotos: Domingos Martins

2 comentários:

  1. Nao desistam... Coloquem anuncios nos jornais, tentem nos restaurantes, nos cafés, imprimam CVs na ADEM e saiam distribuindo por ai. Nessa época eh muito bom para conseguir trabalho nos restaurantes. Boa sorte!

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  2. eu estou na suiça, e cheguei em outubro......mas é realmente a verdade....nos portugueses somos aventureiros e dificimente se não conheceres ninguem do local onde habita em portugal que esteja á muitos anos no país é dificil conceguir trabalho se não o tipo de trabalho que consegues é temporario, andas por interimas que te dão trabalho 2 a 3 semanas depois não tens direito a nada......é muito dificil eu que o diga para conseguir papeis tive 5 meses no pais.

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