quarta-feira, 30 de maio de 2012

Luxemburgo: "Há mais idosos portugueses a ficar por cá"

A barreira linguística não é um problema para a Hëllef Doheem.
Cerca de 10 % dos trabalhadores falam português
Há cada vez mais idosos portugueses que, depois de uma vida de trabalho, preferem ficar a gozar a reforma no Grão-Ducado, perto da família. Quem o diz é a Fundação de apoio domiciliário "Hëllef Doheem", que já prepara uma campanha dirigida às famílias lusófonas.

"Há 10 ou 15 anos, muitos portugueses, logo que chegavam à idade da reforma no Luxemburgo, regressavam a Portugal. Mas agora essa tendência começa a mudar. Temos verificado que há mais idosos portugueses que começam a ficar no Luxemburgo e foi por isso que decidimos avançar com uma campanha de sensibilização para esse público", refere a Relações Públicas da fundação, Nathalie Schmit.

A ligação da fundação com a comunidade de língua portuguesa tem-se verificado sobretudo em acções mais "pontuais". Durante as peregrinações de Fátima, em Wiltz, milhares de peregrinos portugueses, cabo-verdianos, brasileiros e de outras nacionalidades recebem os cuidados de enfermeiros e voluntários da Hëllef Doheem. Este ano, mais de sete mil pessoas passaram pelo stand de informações da fundação. O contacto estabelecido com a comunidade lusófona foi um primeiro passo para o que se segue.

"Paralelamente ao trabalho do stand de cuidados aos peregrinos, tivemos outro stand, só com informações sobre os nossos serviços. Passaram por lá mais de sete mil pessoas e o contacto com os portugueses foi bastante caloroso e positivo. Vamos ter agora uma próxima etapa para saber o que é preciso fazer e como podemos adaptar os nossos serviços ao público lusófono", diz Nathalie Schmit.

A Hëllef Doheem conta para já com 350 clientes portugueses (6 % do total), idosos, doentes crónicos ou pessoas dependentes, sendo que a maioria são luxemburgueses (3.800 clientes). Por isso, a fundação quer conhecer os problemas com que se debate a comunidade lusófona, adoptar uma resposta mais eficaz e engrossar o número de clientes.

"Temos apenas uma pequena percentagem de clientes portugueses e queremos contrariar esta tendência. Queremos aceder melhor a essas pessoas e para tal vamos começar uma campanha de sensibilização que vai decorrer de 30 de Maio a 15 de Junho", acrescenta a Relações Públicas.

As informações durante a campanha vão ser prestadas em português. Para isso foram criados uma morada email ( informacoes@shd.lu) e um número de telefone (621 225 880), que vai funcionar de segunda à sexta-feira, das 14h às 20h.

A Hëllef Doheem publica também três brochuras em língua portuguesa. Nelas, encontram-se disponíveis informações sobre os centros de cuidados, serviços de assistência e aconselhamento, actividades de proximidade, serviço telefónico nacional de emergência ("o tele-alarme remoto"), entre outros serviços.

Durante esses 15 dias, a fundação vai poder contabilizar o número de pessoas interessadas e recolher outros dados para ver como adaptar-se às necessidades da comunidade lusófona.
Há 10 ou 15 anos, os portugueses regressavam a Portugal,
depois de chegarem à idade da reforma.
Hoje, a tendência começa a mudar

"Avançar, já está decidido, mas é sempre melhor ter mais dados para saber em que direcção", diz a responsável portuguesa da Hëllef Doheem, Clara dos Santos, que aponta a falta de informação e o "sentimento de culpabilidade" como possíveis razões do pouco número de clientes portugueses.

"O facto de termos ainda poucos clientes portugueses pode ter a ver com a falta de informação sobre a fundação. Por outro lado, notamos também que as famílias se ocupam cada vez mais da pessoa doente e não procuram muito a ajuda. Os portugueses prezam muito a noção da família e eles mesmos tratam dos seus ou pedem a ajuda aos vizinhos. Se vier alguém de fora para ajudar, acham que são incapazes de falar ou receiam o que o profissional de saúde possa falar deles. Há como que um sentimento de culpabilidade quando se trata de recorrer à ajuda. Esperamos compreender e colmatar este problema com a ajuda das pessoas, fazendo-nos chegar as suas questões seja por escrito, seja por telefone, até 15 de Junho", diz Clara dos Santos.

Outra questão apontada como factor de "retracção" aos serviços domiciliários pode prender-se com a questão linguística, mas os responsáveis da fundação garantem que o português vai ser língua de trabalho.

"Quando estamos doentes, a tendência é fazer-nos explicar na nossa língua de origem. Conhecemos melhor os termos e é mais fácil dizer as coisas. Nesse sentido, queremos que as pessoas se exprimam como se sentem melhor, e podem ter a certeza que os vamos entender, porque 10 % dos nossos colaboradores falam português", garante Clara dos Santos.

"Quanto aos centros de cuidados onde não haja profissionais de saúde que falem português, a Hëllef Doheem pode fazer deslocar um trabalhador que fale português para facilitar os trabalhos", acrescenta.

"O nosso lema é 'humano e competente' e posso garantir que o serviço prestado é feito por pessoas formadas e competentes.

Os nossos colaboradores estão lá para ouvir e ajudar os portugueses e dar uma segurança a toda a família. Se a família não tem possibilidade de cuidar, não precisa de se sentir culpada. Há todo um serviço com que pode contar e que oferece não só o que é necessário, o lado competente, mas também algo que marca a diferença, que é a proximidade, o lado humano. É por isso que dizemos que somos uma fundação de pessoas para pessoas", conclui a Relações Públicas Nathalie Schmit.

A Fundação Hëllef Doheem foi fundada em 1999, a partir da fusão de três associações: Hëllef Doheem Krankefleeg, Aide Familiale-Aide Senior e o Foyers Senior. Actualmente conta com 1.750 trabalhadores de 28 nacionalidades (10 % portugueses).

Além da campanha de sensibilização que arranca hoje, a Hëllef Doheem quer garantir nos próximos dois anos um serviço mais aberto à população de língua portuguesa, apostando também em actividades de culinária, viagens, conferências, entre outras actividades. Para encomendar as brochuras em português ou para mais informações sobre a Hëllef Doheem: tel. 621 225 880 (ou email: informacoes@shd.lu ).

Texto: Henrique de Burgo
Fotos: Stëftung Hëllef Doheem

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